sábado, 21 de maio de 2011

Quanto nós merecemos?

O ser humano é um animal que deu errado em várias coisas. A maioria das pessoas que conheço, se fizesse uma terapia, ainda que breve, haveria de viver melhor. Os problemas podiam continuar ali, mas elas aprenderiam a lidar com eles.
Sem querer fazer uma interpretação barata ou subir além do chinelo: como qualquer pessoa que tenha lido Freud e companhia, não raro penso nas rasteiras que o inconsciente nos passa e em quanto nos atrapalhamos por achar que merecemos pouco.
Pessoalmente, acho que merecemos muito: nascemos para ser bem mais felizes do que somos, mas nossa cultura, nossa sociedade, nossa família não nos contaram essa história direito. Fomos onerados com contos de ogros sobre culpa, dívida, deveres e… mais culpa.
Um psicanalista me disse um dia:
– Minha profissão ajuda as pessoas a manter a cabeça à tona d’água. Milagres ninguém faz.
Nessa tona das águas da vida, por cima da qual nossa cabeça espia – se não naufragamos de vez –, somos assediados por pensamentos nem sempre muito inteligentes ou positivos sobre nós mesmos.
As armadilhas do inconsciente, que é onde nosso pé derrapa, talvez nos façam vislumbrar nessa fenda obscura um letreiro que diz: “Eu não mereço ser feliz. Quem sou eu para estar bem, ter saúde, ter alguma segurança e alegria? Não mereço uma boa família, afetos razoavelmente seguros, felicidade em meio aos dissabores”. Nada disso. Não nos ensinaram que “Deus faz sofrer a quem ama”?
Portanto, se algo começa a ir muito bem, possivelmente daremos um jeito de que desmorone – a não ser que tenhamos aprendido a nos valorizar.
Vivemos o efeito de muita raiva acumulada, muito mal-entendido nunca explicado, mágoas infantis, obrigações excessivas e imaginárias. Somos ofuscados pelo danoso mito da mãe santa e da esposa imaculada e do homem poderoso, pela miragem dos filhos mais que perfeitos, do patrão infalível e do governo sempre confiável. Sofremos sob o peso de quanto “devemos” a todas essas entidades inventadas, pois, afinal, por trás delas existe apenas gente, tão frágil quanto nós.
Esses fantasmas nos questionam, mãos na cintura, sobrancelhas iradas:
– Ué, você está quase se livrando das drogas, está quase conquistando a pessoa amada, está quase equilibrando sua relação com a família, está quase obtendo sucesso, vive com alguma tranqüilidade financeira… será que você merece? Veja lá!
Ouvindo isso, assustados réus, num ato nada falho tiramos o tapete de nós mesmos e damos um jeito de nos boicotar – coisa que aliás fazemos demais nesta curta vida. Escolhemos a droga em lugar da lucidez e da saúde; nos fechamos para os afetos em lugar de lhes abrir espaço; corremos atarantados em busca de mais dinheiro do que precisaríamos; se vamos bem em uma atividade, ficamos inquietos e queremos trocar; se uma relação floresce, viramos críticos mordazes ou traímos o outro, dando um jeito de podar carinho, confiança ou sensualidade.
Se a gente pudesse mudar um pouco essa perspectiva, e não encarar drogas, bebida em excesso, mentira, egoísmo e isolamento como “proibidos”, mas como uma opção burra e destrutiva, quem sabe poderíamos escolher coisas que nos favorecessem. E não passar uma vida inteira afastando o que poderia nos dar alegria, prazer, conforto ou serenidade.
No conflitado e obscuro território do inconsciente, que o velho sábio Freud nos ensinaria a arejar e iluminar, ainda nos consideramos maus meninos e meninas, crianças malcomportadas que merecem castigo, privação, desperdício de vida. Bom, isso também somos nós: estranho animal que nasceu precisando urgente de conserto.
Alguém sabe o endereço de uma oficina boa, barata, perto de casa – ah, e que não lide com notas frias?
Lya Luft

sábado, 14 de maio de 2011

Quem comanda e quem é comandado; O valor do Confiar.

  Junto a todas as emoções contraditórias e pulsantes que fazem do meu coração seu habitat, tento achar um motivo pelo qual devo compreender todas as revoltas bonitas e completamente 'aplaudíveis' desses seres humanos pateticamente bonitos e arrumadinhos. Só um motivo que me leve a uma pergunta básica e 'respondível', e depois a outra, e depois a outra. E assim sucessivamente até não haver mais perguntas, nem motivos, nem beleza. Nem mais nada. Mas só o que eu encontro são uns paletós bem arrumados, alguns saltos agulha lindos e que qualquer mulher daria tudo para ter um daqueles... Ah, e uns cafés mal adoçados. 
Encontro também, uma agenda com todos os planos para a semana daquela garota, e nela, encontro lugares, horários, datas marcadas, e naquele instante corre tudo perfeitamente bem. E de repente, olha quem surge na porta? A garota. A tal com um salto agulha, um paletózinho feminino fofo e arrumado, que naquele outro instante segurava uma outra agenda na mão. Eu havia ficado tão feliz quando encontrei a primeira na sua gaveta, que agora ao ver uma segunda na mão dela, as minhas esperanças se permutaram para um lugar desconhecido e não tão arrumado. Mas era tarde demais para se entristecer e pedir perdão por ter fuçado suas coisas tão arrumadas, ela me perguntou, soluçei, tossi e respondi: "Confundi a gaveta, pensei que a senhorita havia me mandado pegar os papéis na primeira gaveta e não na ultima. Perdão. Isso não irá se repetir." e ela com o seu timbre suave e sombrio, me olhou, nada respondeu, e dirigiu-se a primeira gaveta. Pegou os papéis, tomou a sua agenda da minha mão, guardou-a novamente na terceira gaveta e caminhou em direção a porta. Entreabriu-a para mim, e esperou que eu me dirigisse a parte de fora de sua sala, então eu fui, ela se virou e trancou a porta pelo lado de fora, e partiu. E eu, permaneci absolutamente baixo, absolutamente patético, desarrumado, inadequadamente satisfeito e indigno da sua confiança e postura para comigo. E foi ali que eu percebi a importância da palavra que eu li por duas semanas seguidas o significado no dicionário e só constava teorias, e foi ali, exatamente após tal momento, que eu entendi o que o dicionário quis me dizer. "Confiança".


14/05/11.




- ThC.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

O repouso; Pousar.

E de repente me bate aquela vontade de escrever algo que ela pudesse ler e pudesse sentir bem fundo da sua alma o que eu estava querendo lhes dizer. Com palavras doces e absolutamente santas. E que estas conseguissem sim, tocar a sua alma. Eu queria fazer muito por ela, queria fazer tudo por ela. O que sentira quando a vi, era tão sublime que nada era tão forte capaz de abalar nem sequer metade de todo aquele edifício de sentimentos bons. E eu queria voar(e ao mesmo tempo em terra firme), eu queria ir longe, eu queria grudá-la em mim. Eu possuía um medo irreal de perdê-la nessa rotina que é a vida. E eu tinha vontade de fazer tantas coisas por ela. Eu queria cuidar demais, mimar demais, me preocupar demais, eu queria sempre demais; Até porque o meu sentimento era grande demais pra que eu me deixasse cometer o deslize proposital de fazer tudo de menos, ou pela metade. Aquela explosão dentro de mim, queimava, ardia, e me causava mil sensações ao mesmo tempo. Eu sorria, tinha ânsias freqüentes de um abraço dela, caminhava em sentido oposto e queria rapidamente voltar porque me batia aquele negócio que vocês chamam de saudade, era incrível isso. Incrível mesmo. 
E num instante qualquer desses dias chuvosos em que eu olhava pela janela, sorria para a chuva e me auto-abraçava pra não morrer de febre, eu percebi que aquilo não era algo que eu pudesse reverter. O estado era irreversível, mesmo. Estava enorme, e só crescia. Não, não era uma ferida ou uma doença maligna. Talvez uma doença, mas não maligna. Era algo extremamente maravilhoso, era fantástico, magico. Encantador seria a palavra perfeita. Mas dando continuidade ao que eu estava a dizer; Naquele instante eu pude perceber que o motivo daquela minha doença, era amor. E ela podia duvidar um dia, ela podia pensar que não, mas era. E é. E vem sendo todos os dias. E quando eu olho pela janela, faça sol ou faça chuva, me abraço(pra lembrar do seu abraço), eu me lembro do que eu pensei naquele dia. Eu me lembro da minha conclusão, auto-afirmativa.


Benigna, intensa e delirante; O Amor.

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"Talvez eu até esteja errado, mas que se dane. Se uma pessoa não tem paciência nem pra conquistar minha confiança e afastar meus medos, o que eu posso esperar, então? Sou quebra-cabeça de 500 mil peças, quem não tiver capacidade, tenta um jogo mais fácil. Eu supero e agradeço." - Tati Bernardi