domingo, 25 de dezembro de 2011

Hurricane




  Eu vou contar até dez e depois nós precisaremos correr. Correremos o mais rápido possível e para o lugar mais longe de todos os que nós conhecemos - Um - Não me olhe desse jeito, você sabe o porque precisamos fazer isto, não é a toa, não é em vão, não é por nada, tem um porque, e você sabe, nós sabemos. Escolhemos permanecer nesta cidade imunda e vimos todos os nossos sonhos sendo apagados, como um extintor gigante apagando as chamas de uma fogo minúsculo. Vimos tudo o que tínhamos construído, sendo cremados, esquecidos, guardados, trancados em uma gaveta onde não havia uma chave - Dois -. Mas eu juro, eu juro que vou me esforçar para ser o melhor para você, para ser de verdade o que você sempre viu em mim. Não, meu amor, eu não queria que tudo tivesse acontecido dessa forma. Não foi esse o roteiro que eu imaginei para o nosso filme. Eu juro, não foi - Três -, mas o que se há de fazer quando não se há mais nada a fazer? Qual o caminho que se pode escolher quando não se há mais nenhum caminho disponível a ser seguido?
  Meus olhos que olham os seus bem no fundo, nossas mãos inquietas e que nesse momento transpiram incessantemente, nossos nervosismos incontroláveis e visíveis. Eu te olho, seguro o seu rosto com as minhas mãos, tento te agarrar, te grudar em mim, não te deixar partir, mas eu sinto como se não pudesse, como se os meus braços não conseguissem mais te abraçar, como se eles estivessem se tornado pequenos demais, e isso dói. Muito. Mas eu não posso desistir.
  Uma lágrima escorre em sua face. Eu tento te dizer que tudo vai ficar bem e que ainda não terminou, que nossa história não termina, não pode terminar, mas você não me ouve, e eu fico cada vez mais desesperado por uma solução - Quatro. Eu sinto como se não conseguisse me mover mais, como se todos os meus ossos estivessem congelados e os meus músculos dissipados. Eu não sei o que te dizer, não sei o que pode ser mais doloroso para mim: Estar te perdendo aos poucos num instante, ou te perder num instante aos poucos. E essa ânsia destrói tudo de belo que ainda nos resta - Cinco.
  E eu vou contando, contando, contando... E quando tudo estiver terminado, quando ao último número eu chegar, eu quero que fuja comigo, que seja veloz, que não pense na dor, que se torne invencível, e corra comigo, por favor - Seis -, porque você sabe que eu nunca desejei isto. Você sabe que tudo o que eu mais queria, era um mundo tranquilo com você. Uma casa, um quarto e você. Mais nada. Você sabe que eu me esforcei para que nada nos destruísse, você sabe que eu tentei te abraçar todas as vezes em que nos encontramos em circunstâncias complicadas, você sabe que tentei te proteger de tudo... - Sete.
  Está ficando cada vez mais perto do momento esperado, e dessa vez, você já sabe o que precisa fazer. Daremos as mãos, e deixaremos essa cidade para trás. Deixaremos tudo para trás, deixaremos Nós para trás. O amanhã pertencerá a Deus, só. - Oito. Estamos ficando cada vez mais nervosos, eu já não tenho certeza de que isto dará certo, eu já não sei se isto é o que você quer, se Eu sou o que Você quer. Mas faremos isto, que não seja por Nós, que seja por Você e Eu, mas faremos. - Nove.
  Estou ficando cada vez mais ansioso. Ocorre em mim uma mistura de sede, de náusea, de ânsia... Uma mistura de tudo que faz mal, de tudo que é perigoso e vicia, de tudo que é degenerativo.
- Você está vendo aquele corpo naquele espelho? Aquele corpo triste, sem brilho, sem reflexo nem sombra, somente um corpo, pálido, fatigado, cansado? Está vendo? Por favor, diga que sim. Aquele sou eu. Mas eu estou bem, não precisa se preocupar. Está tudo bem, se não está, vai ficar. Não se preocupa, eu vou cuidar de você.
Eu fiz tudo o que pude, eu tentei te proteger de todo e qualquer ferimento, aborrecimento, frustração mas o momento esperado chegou. O último número. E eu te olho, com um olhar diferente, com um olhar negro de quem tenta passar segurança mas na verdade, é um poço infinito de insegurança, medo e dor... E te digo que se nada der certo, prometo te encontrar em uma outra vida, te proteger de uma maneira diferente, quem sabe te proteger com mais proteção. Ser quem você sempre achou que eu fosse ser um dia. Eu prometo, eu prometo. Segure a minha mão, corra o mais rápido. Vou reforçar, vou contar até três, querida.
Um, Dois, Três... Já! - DEZ.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

A estranha invisibilidade dos olhos.



  E o que eu queria? O que eu queria nem eu mesma sabia. Era algo inanimado, alguma coisa que existia somente na minha cabeça. Eu fazia tantos planos, criava tantas cenas, e mal sabia eu que tudo aquilo não passava de pura ilusão de ótica. Uma conversa sem nexo entre o meu consciente e o meu subconsciente a respeito dos meus devaneios. Ah!, eu criava tantos cenários. Azuis, vermelhos, floridos, escuros, nublados, ensolarados, falsificados.
  Mas, após um certo tempo, eu simplesmente não conseguia mais criar cenário algum. Ficou tudo preto e branco. Como uma fotografia antiga; e não só antiga, como também, envelhecida, translúcida... E eu mal conseguia enxergar os traços da imagem. E após mais um tempo, tudo escureceu. Foram-se as cores, as fotografias memoráveis em preto e branco, cores em sépia... Tudo se foi, tudo, tudo!

  E de repente, míope, dautônica, cega. E tudo se foi.


- ThC.

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"Talvez eu até esteja errado, mas que se dane. Se uma pessoa não tem paciência nem pra conquistar minha confiança e afastar meus medos, o que eu posso esperar, então? Sou quebra-cabeça de 500 mil peças, quem não tiver capacidade, tenta um jogo mais fácil. Eu supero e agradeço." - Tati Bernardi