quinta-feira, 14 de abril de 2011

A menina do ônibus.

Sair destraída de casa, me faz encontrar pessoas que eu não vejo a muito tempo. E eu gosto disso. Eu gosto de reencontrar as pessoas; de encontrar pessoas do passado, em tempos diferentes. É divertido essa coisa de brincar com as pessoas e com o tempo; Ao mesmo tempo surpreendente, pois não sabemos quem elas se tornaram.
Um dia desses eu encontrei uma amiga no ônibus que eu não via a mais ou menos uns dois anos. Ela me reconheceu(apesar de eu não ser mais a mesma... e nem ela) e acenou com a mão. Então me sentei ao lado dela, e conversamos. Conversa vai, conversa vem, e ela me conta um filme sobre a sua vida. Eu assustada por dentro e calada por fora, continuava a ouvir. Ela me falava sobre os lugares, sobre as suas dores, sobre as suas mágoas, e todo o desastre que essa coisa de "se entregar" havia causado na sua vida. Confesso que eu tentei até dar alguns conselhos a ela, tentei lhes dizer que a saída mais sensata e conveniente que ela poderia ter era tentar se reerguer e construir novamente aquilo que ela chamava a dois anos atrás de Meu pedacinho de chão. Ela me dizia de uma forma indireta que a vida havia sido muito dolorosa com ela, que quanto mais ela queria alcançar a vitória, mais ela caía sobre as ruínas das suas perdas. E eu fiquei triste por ela, e o que mais me doía era que a essa altura do campeonato eu não conseguia dizer nem mais uma palavra... Só sabia concordar e dizer: "unhum, aham, éé..."; Eu estava gritando por dentro. Eu me perguntava como ela podia ter vivido tanta coisa em tão pouco tempo, meu Deus...
Quantos anos aquela menina viveu?
Quando o ônibus chegou ao meu destino, eu tive que descer, eu não pude ajudá-la... Até porque ela não me ouvia, só falava, falava, falava e falava...
Então eu desci.
Ela não sabia, mas ela deveria ter me ouvido. Não por ser eu quem estava falando, mas sim porque saber ouvir é uma arte que poucos possuem. E se ela realmente queria mudar a sua vida, queria destruir aqueles cacos que ela carregava todos os dias sobre as costas, ela deveria aprender a ouvir mais. Daquela forma ela só se afundaria mais e mais. E como todo mar de desgraça e infelicidade, uma hora ela não encontraria mais um fim. Uma hora ela chegaria ao destino final, e depois? e aí? O que iria acontecer com aquela garota que um dia possuiu sonhos?

É... Ela deveria ter me ouvido.

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"Talvez eu até esteja errado, mas que se dane. Se uma pessoa não tem paciência nem pra conquistar minha confiança e afastar meus medos, o que eu posso esperar, então? Sou quebra-cabeça de 500 mil peças, quem não tiver capacidade, tenta um jogo mais fácil. Eu supero e agradeço." - Tati Bernardi